Apresentações

COMPORTAMENTO REPRODUTIVO DO GRILO DE ARBUSTO Cranistus colliurides (ORTHOPTERA, GRYLLIDAE) - ELLIOTT CENTENO DE OLIVEIRA - XXII Congresso de Iniciação Científica da UFPel- 2013

COMPORTAMENTO REPRODUTIVO DO GRILO DE ARBUSTO Cranistus colliurides (ORTHOPTERA, GRYLLIDAE)

ELLIOTT CENTENO DE OLIVEIRA1, LUCIANO DE PINHO MARTINS2, GABRIEL LOBREGAT DE OLIVEIRA3, EDISON ZEFA4.

1Universidade Federal de Pelotas – elliottcenteno@hotmail.com

2Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - lucianodpm@gmail.com

3 Universidade Federal de Viçosa - gabriellobregat@gmail.com

5Universidade Federal de Pelotas - edzefa@gmail.com

1. INTRODUÇÃO

            O comportamento reprodutivo dos grilos apresenta diferentes níveis de complexidade, incluindo rituais de corte e cópula com canais multimodais de comunicação, tornando esse grupo de grande interesse para testar hipóteses sobre seleção sexual (Alexander, 1957, 1962, Otte, 1992, Tregenza e Wedell, 1997, Balakrishnan e Pollack, 1996).

            Os machos atraem as fêmeas por meio de sinais acústicos (Alexander, 1962, 1967) ou pela emissão de feromonônios específicos (Brown, 1999; Prado, 2005). O reconhecimento sexual ocorre pelo contato de antenas (Loher e Damback, 1989; Tregenza e Wedell, 1997), desencadeando os rituais de corte, que envolvem simultaneamente a emissão de sinais acústicos, vibrações das antenas, toques por meio de antenas e palpos, além de vibrações do corpo (Alexander, 1967; Bell, 1980). A cópula algumas vezes é precedida ou acompanhada por presentes nupciais oferecidos pelos machos, incluindo secreções glandulares (Hancock, 1905; Walker e Gurney, 1967), hemolinfa (Prado, 2005), espermatóforos (Vahed, 1998; Shaw e Khine, 2004) ou espermatofilax (Sakaluk, 1984). Durante a cópula, ocorre ou não a transferência do espermatóforo, fato determinante nas estratégias de manutenção da fêmea na postura de cópula e comportamento pós-cópula.

            Embora haja um número considerável de análises comportamentais em grilos, percebe-se que poucos são os estudos destinados aos Trigonidiidae, que em contrapartida caracterizam-se como um dos principais grupos em número de espécies dentre os Gryllidae (DESUTTER, 1995, Walker e Masaki, 1989).

            O objetivo desse trabalho foi descrever o comportamento reprodutivo de Cranistus colliurides, desde o reconhecimento sexual até o comportamento pós cópula.

2. METODOLOGIA

            Foram capturados 15 machos e 17 fêmeas, de fevereiro a abril de 2013, em arbustos nos arredores do Campus Universitário de Capão do Leão, UFPel, RS.

            Os espécimes foram mantidos individualmente em potes de vidro de 500 ml, contendo galhos e folhas, além água e alimento (ração para peixe) ad libitum.

            Os encontros foram realizados (n=40) em arenas de vidro de 15 cm de diâmetro por 10 de altura, entre 21 e 28ºC e iluminação ambiente, e registrados com filmadora Sony DCR-SR68.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

            Após a introdução do casal na arena ocorre a antenação, o macho se posiciona de costas para a fêmea, ergue as tégminas e inicia a corte, que inclui simultaneamente estridulação contínua, vibração dorsoventral do corpo, movimentação ântero-posterior dos palpos e vibração das antenas; a fêmea promove antenação na região dorsal do macho, incluindo pernas posteriores e tégminas. Na seqüencia, o macho posiciona suas asas posteriores lateralmente e expõe a genitália e o espermatóforo.

            Após a corte, o macho abaixa as tégminas, se aproxima da fêmea posicionando-se sob ela e inicia a cópula. Antes da transferência do espermatóforo, o macho agita o corpo lateralmente, enquanto a fêmea tateia com seus palpos labiais e maxilares a região dorsal e lateral do pronoto e abdome do macho. A cópula termina quando a fêmea sai de cima do macho, e ambos ficam de costas um para o outro por alguns segundos, até a separação.

            O comportamento pós-cópula do macho inclui tremulações bruscas dorsoventrais, estridulação intermitente e perseguição à fêmea. Tempo médio de duração dos eventos em segundos: antenação ao início da cópula 1216±428 (720-2280, n=26); antenação à eversão da genitália 610,3±552,5 (120-2280, n=29); eversão da genitália à exposição do espermatóforo 49±10,3 (24-69, n=27); exposição do espermatóforo ao início da cópula 670,6±78,7 (500-768, n=25); duração da cópula 53,5±42,8 (5-158, n=26); antenação até o término da cópula 1287,7±417,5 (780-2400, n=26).

            Sugerimos que o tempo gasto durante a corte é necessário para a produção do espermatóforo e para que a fêmea avalie as qualidades genéticas do macho. A cópula é rápida, pois o espermatóforo é transferido para a fêmea, e para evitar que esse seja retirado antes de ser esvaziado completamente, ocorre o comportamento de guarda. Novos estudos experimentais serão necessários para compreender de que modo as ações comportamentais atuam no processo de seleção sexual desses insetos.

4. CONCLUSÕES

            O comportamento reprodutivo de Cranistus colliurides, desde o reconhecimento sexual até o comportamento pós cópula está de acordo com o padrão verificado na maioria das espécies de Grylloidea, porém esta espécie destaca-se pela emissão de sinais acústicos durante o comportamento pós-cópula, que foi pouco documentado nos estudos em Grylloidea.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXANDER, R.D. Acoustical communication in arthropods. 1967. Annu. Ver.Etomol. 12: 495-526.

ALEXANDER, R.D.  Evolutionary change in cricket acoustical communication.  Repr. Evolution,  v.16, n.4, p.443-67, 1962.

ALEXANDER, R.D.  The taxonomy of the field crickets of the Eastern United States (Orthoptera: Gryllidae: Acheta).  Ann. Entomol. Soc. Am.,  v.50, n.6, p.584-602, 1957.

Balakrishnan, R.; Pollack, G. S. 1996. Recongnition of courtship in the field cricket, Teleogryllus oceanicus. Anim. Behav. 51, 353-366.

Bell, P. D. 1980. Multimodal communication by the black-horned tree cricket, Oecanthus nigricornis (Walker) (Orthoptera: Gryllidae). Canadian Journal of Zoology. v.58, 1861-1868.

Brown, W. D. 1999. Mate choice in tree crickets and their kin. Annu. Rev. Entomol. V.44, 371-396.

DESUTTER-GRANDCOLAS, L.  Toward the knowledge of the evolutionary biology of phalangopsid crickets (Orthoptera: Grylloidea: Phalangopsidae): data, questions and evolutionary scenarios.  J. Orthop. Res.,  v.4, p.163-75, 1995.

Hancock, J.J. 1905. The habits of the striped meadow cricket (Oecanthus fasciatus Fitch). Am. Nat. 39: 1-11.

Loher, W. & Dambach, M. 1989. Reprodutive behavior, p.43-82. In F. Huber, T.E. Moore & W. Loher (eds.), Cricket behavior and neurobiology. London, Cornell University Press, 565p.

OTTE, D.  Evolution of cricket songs. J. Orthop. Res.,  n.1, p.25-49, 1992.

Prado, R. 2005. Reproductive behavior of Eidmanacris corumbatai Garcia (Orthoptera: Phalangopsidae). Neotropical Entomology, v.35, n.4, 452-457.

Sakaluk, S. K. 1984. Male crickets feed females to ensure complete sperm transfer. Science, v. 233, 609-610.

Shaw, K.L.; Khine, A. H. 2004. Courtship behavior in the Hawaiian cricket Laupala cerasina: males provide spermless spermatophores as nuptial gifts. Ethology, 110, 81-95.

Tregenza, T.; Wedell, N. 1997. Definitive evidence for cuticular pheromones in a cricket. Anim. Behav., 54, 979-984.

Vahed, K. 1998. The function of nuptial feeding in insects: a review of empirical studies. Biol. Rev. 73, 43-78.

Walker, T. J.; Gurney, A. B. 1967. The metanotal gland as a taxonomic caracter in Oecanthus of the United States (Orthoptera: Gryllidae). Proc. Entomol. Soc. Wash. 69:157-161.

Walker, T. J.; Masaki, S. 1989. Natural History In F. Huber, T.E. Moore & W. Loher (eds.), Cricket behavior and neurobiology. London, Cornell University Press, 565p.